top of page

URBANESAS- ensaio fotográfico

As urbanesas crepitam. Cresceram lado a lado com a cidade no decurso do
século. Testemunharam a apoteose do asfalto a lamber seus enlaces com a terra. Mas
também presenciaram histórias, conheceram personagens, deram abrigo a muitas
tramas. Nutriram-se de memórias inventadas sob suas frondosas sombras. Derrubadas,
passaram a animar o corpo das vestais. É que as urbanesas não se reduzem aos troncos
daquelas árvores assassinadas. A calculada brutalidade de sua morte lhes dá a ocasião de
um novo nascimento, tão agressivo em sua delicadeza a ponto de assombrar os agentes
da ordem. As urbanesas são agora signos dispersos, experiências espalhadas. Persistirão
naqueles que passaram a vida a cruzar com elas pelo caminho, marcando um desvio
involuntário no andar, sempre que um passante chegar ao ponto em que elas emergiam
do chão. Elas deixam de ser o obstáculo à calçada administrada, mas retornam
obstinadamente sob o traço de uma elegia.

Texto: Eder Amaral Silva

bottom of page